Como toda boa família moderna, a minha é matriarcal. Mas não quer dizer que nosso bom patriarca não tenha todo o respeito e admiração da prole. Um belo dia, mais precisamente no seu aniversário de 80 anos, ficou combinado que todos iríamos almoçar juntos num restaurante para comemorar a tão esperada data. afinal, comer é um de seus passatempos prediletos. Faltou só escolher o local. No dia, com toda a italianada reunida, começamos a discussão. Uns queriam honrar os genes e ir a uma cantina, entupirem-se de massa. Outros prefeririam comer em um fino por quilo próximo ao Iguatemi, para agradar gregos, troianos, persas, cartagineses e etc. Enquanto isso, uns terceiros (nos quais me incluía) cansados da discussão, abstinham-se para argumentar sobre um assunto deveras mais importante: A sobremesa. Conversa vai, xingamento vem (muito natural em família italiana), a fome aumentando a níveis críticos, eis que o homenageado do dia que não havia se pronunciado até então, pois estava em um de seus hobbies preferidos, um bom cochilo, ergue ligeiramente a voz das demais e questiona o resultado da discussão. Um pouco desconcertados, os outros familiares ficam um pouco tensos, até que, numa troca de olhares, um dispõe-se a apresentar sua proposta:
- Um restaurante muito bom próximo à Avenida Paulista.
- É bom mesmo?
-Com certeza. é de um renomado chef, cujos pratos são divinos, todos muito chiques. Todo mundo vai adorar, tem de tudo. Eu já fui lá, o ambiente é ótimo...
Até que foi interrompido pelo grande patriarca:
- E quanto é que fica o almoço?
- Apenas cinquenta reais.
- Todo mundo?
- Não, cinquenta reais por pessoa.
Logo após um breve silêncio:
- Por pessoa? Tô fora.
E saiu, acompanhado pelos filhos em busca do quilão mais próximo...